terça-feira, 21 de julho de 2015

Criticamos a mídia por ser parcial e manipuladora, os políticos por serem corruptos, a polícia por ser violenta, os empresários por serem inescrupulosos.
Quem consome o que a mídia produz? Quem vota nos políticos? Quem vive numa sociedade de mercado?
Tudo que nos incomoda são frutos de um sistema, são sintomas de uma causa.
O governo são pessoas. A polícia são pessoas. A mídia são pessoas.
Qualquer grupo é formado de indivíduos, cada um único e muito mais do que seu grupo, sua generalização.
Um policial pode ser o brutamonte que ataca sem pena, mas como ele veio a existir? Nasceu assim, um ser de pura ignorância e maldade? O político que rouba brotou do chão corrupto?
Cada pessoa é um ser completo, com qualidades e defeitos, medos, ansiedades, sonhos. Só porque um defeito está alí, no seu caminho, não quer dizer que a pessoa seja aquilo. Deixar de ver a complexidade do outro, simplificando-o, vendo-o apenas como pertencente a um grupo com ideias opostas, é roubar sua identidade, é roubar sua humanidade.
Eu quero lutar por um Rio melhor, um Brasil melhor, um mundo melhor, mas enquanto apontamos os dedos para governadores, presidentes, deputados, policiais, jornalistas (que precisam, sim, ser apontados) não posso esquecer das causas que os criaram, do ambiente que permitiu (e as vezes até estimulou) que eles existissem.
E essas causas também existem em mim. Eu faço parte desse sistema, querendo ou não, e tudo que há lá, há cá. A escala muda, mas quem nunca deu uma propina, mentiu pra obter uma vantagem, foi agressivo além do necessário?
É aí que esta a semente do sintoma, a causa, que plantada num solo fértil, dá frutos.
"Ah, mas o que eu faço é tão pouco, tão pequeno, nem dá pra comparar."
A semente é pequena mesmo, e cresce devagar.
De todos os males que reparamos lá fora, de todos os erros que apontamos, façamos isso, mas lembremos que alguns estão mais perto do que parece, logo ali no espelho.
Nada fala mais alto que o exemplo.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Mentiras Brancas

Honestidade Radical - Mentiras Brancas

A mentira me incomoda por diversos motivos. 
Além dos sentimentos de ser enganado, é simplesmente uma má escolha no longo prazo. 

Mentimos para obter algum benefício, para preservação da nossa imagem, para evitar um sentimento de vergonha, por verdadeira covardia.

Assim, um amigo não diz ao outro o que realmente pensa e deseja dele.

Se o amigo possui defeitos, em vez de alertá-lo a respeito, damos um tapinha nas costas e com uma frase reticente, permitimos àquele interpretar que tudo vai muito bem.

Entre as mais aceitas socialmente estão as mentiras brancas. Assim chamadas pois se disfarçam de nobre atitude, e simulam proteger os sentimentos do próximo.

São pouco eficazes, pois tendem a danificar a confiança entre indivíduos e, em larga escala, ajudam a corromper a sociedade. Quando mentimos, estamos enganando as pessoas sobre o mundo, e podemos machucá-las de formas que não conseguimos entender imediatamente.

Não são uma forma de conduzir relacionamentos para a amizade real e intimidade. O que há de real e significativo não pode estar baseado na ilusão.

Enquanto nobremente clamamos proteger os sentimentos dos outros, estamos também (e talvez primariamente) protegendo a nossa reputação como o tipo de pessoa que não teria esse tipo de pensamento a respeito dos que nos são queridos. Estamos protegendo a imagem que eles têm de nós. Estamos protegendo nossa persona tanto quanto seus sentimentos.

A mentira é um atalho, é o caminho de se obter o mérito sem o merecer, de alterar a realidade da forma mais fácil, usando a imaginação e palavras. Assim nos esquivamos de ter de agir no mundo real, de ter trabalho, de criar.

Conhece-te a ti mesmo, dizia o Oráculo de Delphos. Uma forma, creio, é atentar ao que colocamos pra fora.

Só podemos por pra fora o que há dentro. Ao se espremer uma laranja, apenas o suco da laranja sairá, pois é o que há dentro.

Se de nós sai a mentira, o que isso significa?

O que eu gostaria de ver saindo?

Como eu faço pra chegar lá?